Na falta do que fazer a gente inventa, tenta, cria amores e dores que nunca saram, simplesmente porque nunca existiram. Na falta do que fazer a gente é pego de bobeira olhando pro nada e chegando à terrível conclusão de que é no nada que se percebe o quanto de tempo que se perdeu. Das coisas que a gente deixou de fazer e construir por medo ou por achar que grandes chances batem na nossa porta várias vezes. E no meio de tanta gente louca, cheia de afazeres e responsabilidades, é que se percebe que a falta do que fazer é sagrada, porque nos permite ter tempo de sobra pra planejar uma caminhada espetacular. Descobrir que o céu é bem mais azul visto de pertinho, e se permitir chegar até lá, até o limite maior de uma vida. Mas é no “não saber” que se descobre tudo de mais fantástico no mundo, porque a curiosidade e o desejo de conhecer o novo nos move de forma que a falta do que fazer já nem existe mais. Passou como o tempo que se deixa de aproveitar no silêncio de uma noite tranquila, ou no amanhecer de um dia ensolarado, onde só os pássaros cantam uma melodia fascinante. Passou como um abraço que nós esquecemos de dar em alguém que ama, ou como um beijo que não foi dado na hora certa do lugar errado. Na minha falta do que fazer eu escrevo, viro bicho comigo mesma, me desconcentro com qualquer lembrança do passado e às vezes até mudo os móveis de lugar. E percebo que quem não tem planos, não tem dono, rumo nem responsabilidade, tem muito mais à fazer do que qualquer pessoa no mundo. Tem sonhos pra construir.